No dia 1º de setembro de 2010, o maior e mais popular clube do Brasil completou 100 anos. Ao lado daquela nação que chamam de Fiel, o Timão conquistou muitas glórias e deu ao país histórias lindas de paixão e amor à camisa alvinegra. Até porque, no time do povo, o lema é nunca abandonar. E esse bando de loucos jamais fez isso. O que eles pedem sempre é apenas para não parar. E isso nunca aconteceu.
Há 100 anos, a esquina das ruas Cônego Martins e dos Imigrantes (atual José Paulino), no bairro do Bom Retiro, recebia as primeiras reuniões que deram origem ao Corinthians. Cinco operários - profissão mais comum naquela São Paulo de 1910 - tiveram a ideia de fundar um clube que fugisse da elite dominante na cidade, representada principalmente por Paulistano, Germânia e São Paulo Athletic. Na época, a capital paulista tinha pouco mais de 300 mil habitantes. Tais clubes eram muito identificados com colônias - alemã, no caso do Germânia, e inglesa, no caso do São Paulo Athletic. Por isso, a necessidade de um time mais "nacional" era latente.
Joaquim Ambrósio e Antônio Pereira, pintores de parede, Rafael Perrone, sapateiro, Anselmo Correia, motorista, e Carlos Silva, trabalhador braçal, foram os responsáveis pela iniciativa. Após discutirem o possível novo clube em alguns encontros, eles fundaram oficialmente o Corinthians à luz de um lampião. Entusiasmados, chamaram a nova instituição de "time do povo" e foram oficializar o acontecimento em um salão de barbearia. Nascia ali um gigante. O dono da barbearia, na esquina das ruas Julio Conceição e dos Italianos, em São Paulo, era o imigrante italiano Salvador Battaglia. Seu irmão, Miguel, foi eleito primeiro presidente do clube no mesmo 1º de setembro da fundação. A ata da reunião que definiu toda a nova diretoria, teria sido feita no alto de uma palheta, e não em papel. Mesmo vindos da Europa, os irmãos Battaglia queriam um clube com identidade própria e bem brasileira. O nome foi inspirado nos ingleses do Corinthian-Casuals, que passaram pelo país na época.
Miguel (centro, em pé) e Salvador (último em pé): integrantes da Vila dos Battaglias
O local da fundação é lembrado por um marco, uma espécie de obelisco, que passa quase sem ser notado por quem passa pelo bairro. Com uma marcante identidade nacional, o Timão logo fez frente aos grandes Paulistano, Germânia e São Paulo Athletic. O time do povo já marcou território nos seus primeiros anos de vida.
E a centésima conquista?
Faltaram apenas três títulos para o Corinthians completar 100 anos com 100 conquistas. De 1910 até agora, o clube do Parque São Jorge levantou 97 taças, contando campeonatos nacionais, internacionais, estaduais e outros torneios. De qualquer maneira, o currículo alvinegro faz inveja a muitos clubes.
O primeiro torneio conquistado pelo Timão foi o Campeonato Paulista de 1914 e o último a Copa do Brasil de 2009. Nesse intervalo muita coisa aconteceu. Quatro brasileiros, 26 estaduais, um Mundial... Mas também um amargo jejum de 23 anos sem soltar o tão prazeroso grito de “é campeão, é campeão, é campeão”.
A longa fila, porém, virou até tema de filme. Na verdade, o que foi às telas de cinema foi a maneira como o Timão conquistou o Paulista de 1977, acabando com o jejum. Foi no estádio do Morumbi, em duelo com a Ponte Preta, e com um gol de Basílio, até hoje idolatrado pelos corintianos.
Idolatria alvinegra
Ao longo de sua história centenária, o Corinthians colecionou ídolos de todos os estilos. Atualmente, os principais são os galácticos Ronaldo e Roberto Carlos. Mas já teve o polêmico Marcelinho Carioca, o raçudo Tevez, o politizado Sócrates, entre outros. Mas para o jornalista e historiador do Timão, Celso Unzelte, a lista é outra.
Sócrates e Marcelinho estão na lista dos dez maiores ídolos para ele. Mas Tevez, Ronaldo e Roberto Carlos não. Completam o time do jornalista Neco, Luizinho, Baltazar, Cláudio, Rivellino, Teleco, Basílio e Neto. Outros muitos jogadores passaram com destaque pelo Timão, mas às vezes o fato de jogar no rival interfere. A maioria dos ídolos vem das categorias de base, que hoje possuem boa estrutura para os jovens jogadores, candidatos a craques.
Aqui tem um bando de loucos...
Jogar fora ou em casa nunca fez muita diferença para o Corinthians. Seja no Pacaembu, Morumbi ou Maracanã, a torcida sempre esteve presente, até mesmo em momentos pouco favoráveis, como as derrotas na Libertadores e a queda para a Série B. As glórias, porém, evidenciaram ainda mais toda a paixão que os alvinegros carregam pelo time.
Exemplos não faltam. Em 1976, estima-se que cerca de 50 mil corintianos participaram da “invasão” do Maracanã, contra o Fluminense, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro. De carro, ônibus ou avião, a Fiel transformou o Rio de Janeiro em um reduto paulista, coroado com a (claro!) sofrida classificação nos pênaltis.
Um ano depois, mais de 138 mil pessoas abarrotaram o Morumbi durante as finais do Paulistão, contra a Ponte Preta, vendo o fim do jejum de 23 anos sem títulos. Recentemente, a Fiel não abandonou a equipe no momento mais complicado de sua história: o rebaixamento. Durante todo o ano de 2008, a torcida mostrou sua força ao andar por todo o país ao lado do time, ajudando a reconduzi-lo à elite.
Torcer, porém, não foi o único papel da torcida. Criada em 1969, a Gaviões da Fiel procurou participar ativamente da política do clube. Apesar de alguns problemas relacionados à violência fora dos gramados, a torcida teve papel determinante na transformação iniciada no clube em 2007. Na ocasião, o grupo encabeçou um movimento que culminou na renúncia do presidente Alberto Dualib, num dos capítulos mais simbólicos da política corintiana, que já teve nomes como Vicente Matheus.
Sonho mais perto da realidade
Mais do que simplesmente completar 100 anos, o Corinthians ganhou motivos de sobra para comemorar com o anúncio da construção do estádio do clube, em Itaquera, Zona Leste de São Paulo. Durante anos, dirigentes e torcedores foram motivos das mais variadas piadas sobre o tema. Entre os rivais Santos, São Paulo e Palmeiras, o Timão era o único que ainda não possuía sua casa própria.
Motivos para as brincadeiras não faltaram. Quase uma dezena de projetos de estádios já foi apresentada, mas nunca saíram do papel, como a ideia do folclórico ex-presidente Vicente Matheus, que sonhava com um local para 200 mil torcedores.
Desta vez, o Corinthians jura que a construção não permanecerá apenas na fase das maquetes. Andrés Sanches está amparado pelo Governo Federal e a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. A casa alvinegra será para 48 mil pessoas, mas com possibilidade de aumento para 70 mil para a abertura do Mundial.
Queda, redenção e glória
Resta agora a realização de outro sonho de consumo: a Libertadores. Os gastos de R$ 36 milhões na montagem do elenco para 2010 não foram suficientes para dar ao Corinthians a inédita conquista. A meta agora é manter a boa campanha no Campeonato Brasileiro para retornar ao torneio sul-americano em 2011 e, quem sabe, fechar o centenário com o tão sonhado título.
Para coroar a volta, a diretoria apostou na contratação de um mito: Ronaldo. O Fenômeno, longe da forma física ideal, abraçou a idéia e correspondeu dentro de campo, sendo decisivo na conquista dos títulos da Copa do Brasil e do Paulistão de 2009. Além de ídolo, o craque virou também um sócio alvinegro, colaborando com toda sua fama para rechear o cofre com o dinheiro de patrocínios milionários.
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